Karl Jaspers (1883/1969)
"Peço-lhe que me perdoe se lhe digo que por vezes pensei o seguinte: que V. parecia ver os nazis como um rapaz que sonha, que não sabe o que está a fazer […] e que depressa se vê desamparado diante de um monte de entulho e se deixa arrastar cada vez mais fundo."
Carta de Karl Jaspers a Martin Heidegger (citado por Elzbieta Ettinger in "Hannah Arendt e Martin Heidegger")
Heidegger mentiu aos seus amigos mais próximos sobre o seu anti-semitismo e, segundo Arendt, não sabia, "nem estava em posição de descobrir que espécie de demónio o possuiu" quando se sentiu atraído pelo Nazismo, se filiou no partido e, durante o ano em que foi reitor, aplicou com um zelo convicto as leis raciais contra homens como o seu mestre Husserl. É verdade que depois disso se demitiu e que na altura ainda não se falava na "solução final". O seu fascínio pelo führer exprime-se nesta outra citação. Jasper pergunta-lhe se um homem tão grosseiro como Hitler pode governar a Alemanha. Resposta de Heidegger: "A cultura não tem importância. Olhe bem para as mãos maravilhosas que ele tem."
Perante esta evidente duplicidade e esta astúcia somítica, podemos separar o homem do filósofo? De que maneira as suas ideias mais abstractas foram influenciadas pelos seus sentimentos políticos?
Para sermos justos, em termos históricos, temos de fazer essa distinção. Se "Ser e Tempo" fosse a única coisa que soubéssemos de Martin Heidegger poderíamos julgar a obra por outro critério que não fosse aquele que aplicámos ao fragmentos de Heráclito ou ao testemunho de tantos autores da antiguidade de que realmente nada ou quase nada sabemos?
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