quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A LIBERDADE DA IRONIA


Proudhon e seus filhos, por Gustave Courbet (1865).


"Ironia, verdadeira liberdade! És tu que me livras da ambição do poder, da escravidão dos partidos, da veneração da rotina, do pedantismo das ciências, da admiração das grandes personagens, das mistificações da política, do fanatismo dos reformadores, da superstição deste grande universo, e da admiração de mim mesmo."

P.J.Proudhon, citado em "As Farpas" (Ramalho Ortigão e Eça de Queirós)


Eliasoph fala numa "solidariedade cínica" entre os jornalistas que amplifica a sua suspeita e a sua distância em relação ao activismo político. É este um dos efeitos da defesa "à outrance" do conceito de objectividade e da abstenção política a que supostamente obriga.

Ora esse cinismo reforçado (por deformação profissional, poderíamos dizer) está muito longe da ironia tão louvada pelo autor da "Filosofia da miséria", embora ambas possam ser politicamente estéreis. Não é por acaso que Marx (que inverteu o título da obra de Proudhon) é sarcástico em relação ao espírito de independência que sustenta a ironia. O que nos alerta para outro tipo de fanatismo (o dos "reformadores"?) que é o duma sociedade em que a política fosse uma obrigação absoluta, como se se pudesse prescindir do pensamento autónomo, da sua liberdade, das suas dúvidas e dos seus impasses.

Se precisamos de individualidades como Proudhon e de jornalistas que se recusam a ir além da objectividade é porque não podemos viver sem o espírito crítico, mesmo quando parece fora da política.

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