quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

LEVIANDADE



"Há uma leviandade quase grosseira na maneira como, por detrás duma grade de parlatório, uma freira, coberto o rosto com um véu negro, recita em várias línguas a lista das relíquias de que é guardiã. A caveira de Santa Inês, a túnica do Poverello pela própria Santa Clara…"

"Embaixada a Calígula" (Agustina Bessa-Luís)


Agustina fala-nos da sua visita à basílica de Santa Clara, em Assis.

O aparato da mortificação (as grades e o véu negro) é aqui desfeito pela poliglossia. As diferentes línguas, declinadas pela freira, condenam a descrição das relíquias à insignificância impedindo-as de repercutirem no simbólico.

Também, e sem mesmo pensarmos na conotação turística, a leviandade já existe no próprio inventário.

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