quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MÓBILES


Antonin Artaud (1896/1948)


"Procurei, diz-nos ele, no argumento que segue, realizar esta ideia de cinema visual onde a própria psicologia é devorada pelos actos. Sem dúvida este argumento não realiza a imagem absoluta de tudo aquilo que pode ser feito neste sentido; mas pelo menos anuncia-o. Não que o cinema deva dispensar toda a psicologia humana; não é o seu princípio, bem pelo contrário, mas dar a esta psicologia uma forma mais viva e mais activa, e sem essas ligações que tentam fazer aparecer os móbiles dos nossos actos numa luz absolutamente estúpida em vez de no-los exporem na sua original e profunda barbárie."

"K, nº1-2, consagrada a Antonin Artaud"


O cinema é sobretudo movimento, como queria René Clair, invocando para isso as suas origens com as curtas metragens dos Lumière?

Artaud, é verdade, fala em actos para os quais não saberíamos encontrar um princípio racional. A psicologia deveria ser toda exterior, sem qualquer "transposição em palavras", como se este homem do teatro antecipasse os filmes de Antonioni, quase extáticos, eles. A propósito do realizador italiano, falava-se de incomunicabilidade. Mesmo a psicologia dos amantes era "devorada pelos actos", sendo o cinema a constatação do impasse no espaço da palavra.

Por estas e por outras, não sei se o cinema é movimento (apesar da etimologia) e acho ingénua a pretensão de podermos evitar a estupidez no que aos nossos motivos diz respeito.

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