"Podemos assim distinguir logicamente entre um método errado de crítica e um método correcto de crítica. O método errado parte da pergunta: como podemos estabelecer ou justificar a nossa tese ou teoria? Conduz ao dogmatismo ou a um retrocesso infinito ou, ainda, à doutrina relativista dos contextos racionalmente incomensuráveis. Por outro lado, o método correcto da discussão crítica parte desta questão: quais são as consequências da nossa tese ou teoria? Serão todas elas aceitáveis para nós?"
"O mito do contexto" (Karl Popper)
Este critério não poderia ser aplicado quando a ciência mal se distinguia do mito religioso. Então, procurava-se sempre a verdade, que era o mesmo que a realidade de Deus. Nem o próprio Newton, que nunca abdicou da sua crença no Ser Supremo, poderia aceitar o "método correcto da crítica".
A proposta de Karl Popper é, no entanto, a que melhor se coaduna com o estado de incerteza que atinge a ciência contemporânea e que, ao mesmo tempo, lhe permite um progresso indefinido, embora nunca até uma verdade absoluta.
Popper descarta também a pretensa impossibilidade de comparação entre contextos diferentes (a incomensurabilidade de Kuhn), porque sempre será possível julgar as consequências duma teoria, qualquer que seja o seu contexto.
Por outro lado, se são verdadeiramente os problemas (teóricos ou práticos) que nos levam à formulação das nossas teses, podemos pensar com este filósofo, que compreender um problema é: "tentar resolvê-lo e falhar". Falhar porquê? Porque um problema abre sempre perspectivas para um novo problema. Dá-lo como resolvido é, pois, uma ilusão, um triunfo momentâneo.
E ao mesmo tempo percebemos como a ciência é o contrário duma explicação universal, que a ideia de Deus poderia representar. Teríamos talvez de pensar em Heráclito para encontrar uma imagem do conhecimento científico como um fluxo permanente (um rio que se vai alargando até à foz).
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