terça-feira, 21 de abril de 2009

A EPÍTOME DO REAL


Landscape with the Fall of Icarus (Pieter Brueghel)


"O funeral, disse ele, tornou-se um acontecimento avulso com celebração da vida que não consegue 'transportar-nos para a fronteira da realidade alterada'. O foco nos ornamentos distrai-nos da realidade da morte, um reino que não podemos controlar, atenuar, predizer, ou em definitivo evitar. A morte é a epítome do terreno e do caótico mas também a epítome do real."

"Distracted" (Maggie Jackson)


Se fosse possível, desejaríamos que a realidade continuasse a mesma depois duma morte.

Receamos sobretudo a mudança em nós mesmos que é a grande oportunidade de sobrevivermos a alguém.

Faz-me lembrar aquele abutre de advogado de "O Futuro Radioso" (Atom Egoyan) que comprava a perda dum filho com o dinheiro a extorquir da companhia de seguros. Também ele trocava o real pelo virtual. E, como diz Maggie Jackson, nos nossos tempos, "o virtual torna-se a realidade preferida". E cita W.H. Auden:


(...) how everything turns away

Quite leisurely from the disaster; the ploughman may

Have heard the splash, the forsaken cry,

But for him it was not an important failure..."


No quadro de Brueghel, o camponês não levanta os olhos do seu sulco, enquanto Ícaro cai na paisagem.

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