sexta-feira, 10 de abril de 2009

A EDUCAÇÃO PLATÓNICA


Plato in his academy, painting by Swedish painter Carl Johan Wahibom woodcut for the magazine by an unknown xylographer.


"...Se tudo isso é exacto, eis o que nos é preciso pensar. A educação não é efectivamente o que alguns afirmam. Eles dizem que, não se encontrando a ciência na alma, é preciso que se lha dê, como se dá a visão a olhos cegos.

- Sim, eles dizem isso.

- Ora, a nossa teoria significa que existe na alma de cada um a faculdade e o órgão da inteligência, mas como um olho impossível de voltar das trevas para os lugares iluminados sem voltar ao mesmo tempo o corpo todo."

"A República - Livro VI" (Platão, da tradução de Simone Weil)


Devemos compreender esta passagem como se Platão quisesse dizer que a ciência não se pode adquirir sem envolvermos todo o nosso ser? Que não é ciência um conhecimento que não nos modifica profundamente ( e não apenas a nossa perspectiva)?

Sabemos que o filósofo apenas reconhece no Bem a fonte da luz (o verdadeiro conhecimento), e isso parece-nos saborosamente anacrónico, tanto a ciência moderna se desenvolveu abstraída de qualquer preocupação ética. Mais, num espírito cioso da independência da ciência, não só em relação à ética, mas também à religião e aos próprios valores, poder-se-ia até sustentar que essa é uma das condições do seu progresso.

Na teoria defendida por Karl Popper a partir dos problemas que colocam sempre novos problemas num processo imparável de aproximação à verdade, teríamos uma espécie de reacção em cadeia dentro dum único sistema, com a sua semântica exclusiva.

A ideia da educação platónica nada tem a ver com esta ciência separada e independente. É uma arte de conversão e não de aquisição. Trata-se de corrigir a visão espontânea, não através duma prótese, mas duma mudança de direcção do olhar e do "corpo todo". A alegoria da caverna fornece-nos a física da situação.

Quando vemos que a tecnologia instantaneamente coloca à nossa disposição todo o conhecimento objectivo com que poderíamos sonhar, a questão de adquirir torna-se irrelevante, ao passo que a da direcção do nosso olhar, as nossas escolhas e decisões passam a ser o que realmente importa.

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