terça-feira, 28 de abril de 2009

INCENSO E MANGAS DE QUIMONO


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"Numa caixa de madeira de aloés, a Princesa colocara duas jarras de vidro com grossas bolas de incenso, envoltas em seda, a da jarra azul atada a um ramo de pinheiro de cinco pontas e a da jarra branca atada a um ramo de flores de ameixoeira, e os nós que as atavam eram maravilhosamente belos."

"O Romance do Genji" (Murasaki Shikibu)


A carta enviada pela Princesa Asegao ao Genji vem atada a um ramo de ameixoeira e acompanhada daquela caixa de madeira. Os sentimentos exprimem-se nesta delicadeza e nestes subterfúgios. Tudo é alusivo e vago, como se a precisão fosse uma estridência, um perigo a evitar.

Os sexos mal se distinguem pela sensibilidade nestes protocolos. O Príncipe Hotaru deixa-se comover pela doçura do estilo feminino: "pensou que as lágrimas que lhe arrancava aquele talento incomparável iam diluir a tinta no papel."

A contenção do desejo é a lei. É por isso que o traço da mão mais controlada é admirado na caligrafia.

E que fetichismo é este das mangas? "(...) contudo habituadas aos costumes do Palácio, as mangas e tudo o que era visível, muito ao gosto em voga, pareciam brilhar mais do que em qualquer outra parte, apesar de se tratar das mesmas combinações de cores e dos mesmos arranjos."

As mangas são uma metáfora das emoções mais profundas, elas recolhem as lágrimas do exílio e dos desgostos do amor.

Parece que esta corte não está só nos antípodas e a mais de mil anos de nós, mas que faz parte duma constelação mental fora de tudo o que é conhecido.

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