sábado, 25 de abril de 2009

O LUGAR PORTÁTIL


THE SYNAGOGUE OF KAIFENG
drawn by a French Jesuit priest, Jean Demenge, in 1722.



"O que mais se aproxima do primeiro extremo da dissolução - o eu sem lugar - é sem dúvida o judaísmo da diáspora dos últimos dois mil anos, do qual se pôde dizer, não sem razão, que foi um povo sem país - um estado de facto que Heinrich Heine resumiu dizendo que os judeus não estavam em casa num país, mas num livro, que lhes estava adstrito como 'pátria portátil'"

"Palácio de Cristal" (Peter Sloterdijk)


Do seu conceito de situações esféricas, Sloterdijk retira o outro extremo que é o dum lugar sem eu: "Tal vale para todos os espaços de trânsito, no sentido estrito e lato do termo (...)" A globalização participaria dos dois extremos.

Com uma ligação à internet, a "casa" pode estar em todo o lado. Se os contactos são virtuais, não o são mais do que aqueles que mantemos com o mundo dos mortos. As pessoas que se retiram para o seu passado, no fundo, poderiam estar em qualquer lugar, numa diáspora em regressão para o nada ou para a ressurreição.

Os lugares de trânsito, onde não se pode ter "casa", nem permanecer, são essenciais ao mundo globalizado que é o do lugar ubíquo.

Assim, o judaísmo apátrida foi o primeiro modelo do portátil que tende a ser a situação de todos.

Por ironia do destino, o país Israel parece estar hoje contra a corrente e, na sua obsessão pelo território físico, mostrar o zelo do neófito duma religião em declínio.

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