segunda-feira, 7 de setembro de 2009

THAT UNCERTAIN LIBERTY


Kant and Friends at Table, Painting by Emil Doerstling


"Porque desde que reflictamos sobre um acto que foi empreendido na convicção de que somos um agente livre, o mesmo parece cair sob o domínio de duas espécies de causalidades, de um lado a causalidade da motivação interna, e do outro do princípio causal que rege o mundo exterior."

"La crise de la culture" (Hannah Arendt)


Arendt diz que a solução de Kant, "opondo o imperativo da vontade à compreensão da razão", "faz pouco para eliminar a dificuldade maior, a mais perigosa, a saber que o próprio pensamento, tanto sob a sua forma teórica como pré-teórica, faz desaparecer a liberdade – sem contar com o facto que deveria parecer estranho de a faculdade da vontade cuja actividade essencial consiste em comandar seja o refúgio da liberdade."

A coerência do pensamento consigo próprio não deveria ser considerada contrária à liberdade. Hannah Arendt não está a pensar em pulsões ou ditames do inconsciente ao falar em motivação interna, e é certo que tudo deveria ser explicado, em última análise, pelo estado do universo, mesmo o acto aparentemente mais criativo.

A liberdade como contrário da necessidade é um absurdo da dialéctica, não tem qualquer aplicação na moral ou na política. Num mundo em que tanto a natureza quanto a moral se regem por leis, não há lugar para esse tipo de liberdade que, na realidade, seria uma escravidão sem futuro, ao ferir-se constantemente contra os "ângulos" do mundo. Mesmo o "savoir-vivre" de Epicteto que nos reserva uma pequena parcela do mundo para dispormos segundo o nosso prazer cai, bem entendido, sob a alçada de algumas regras que mantêm o perigo à distância.

Kant, ao eleger a vontade moral como essência da liberdade, reconheceu a impossibilidade de compreendermos o real contexto dos nossos pensamentos e actos, apostando na concordância universal dos espíritos como sendo próxima da necessidade que tudo rege.

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