quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A LEVEZA


http://marcsimonetti.deviantart.com/art/Les-ailes-de-la-nuit

"Mas quando, impotente para seguir os deuses, a alma não viu as essências, e por infelicidade, empanturrada de esquecimento e de vício, ela se torna pesada, depois perde as asas e cai por terra, uma lei proíbe-a de animar na primeira geração o corpo de um animal…"

"Phèdre" (Platão)


A classificação do "Fedro" nada nos diz sobre a opinião ou os gostos dos Atenienses, mas permite-nos ter a escala platónica da qualidade das almas.

O tirano está no último círculo, como o último dos escravos. O sofista, o falso filósofo, emparelha com o demagogo, que é um falso político. Como imitadores da verdade, mal se distinguem nas profundas os poetas e os artistas. Um pouco acima, os inspirados pelo delírio divino que produzem toda a espécie de oráculos. A meio da escala, os que procuram manter a boa forma do corpo (ginastas e médicos) e, sobre estes, os estrategas, os que sabem comandar, com o rei justo no segundo nível. Acima de todos os outros, o filósofo, mas não o velho inane e retirado do mundo, ou o observador equânime, porque é "um homem apaixonado pela sabedoria, a beleza, as musas e o amor." Ora, isto parece um pouco incompreensível em quem tanto maltrata os poetas, as musas e as paixões. Mas é preciso ver aqui o iluminado que regressa ao mundo dos homens e para quem tudo foi transfigurado pelo que viu fora da caverna.

Há, pois, para Platão, uma outra vida apaixonada, uma outra beleza e um outro amor que são os daqueles que não esqueceram o que viram e conservam as asas, a leveza.

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