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"Os demagogos – 'muitos grandes homens que adularam o povo, que nunca o amaram'(Shakespeare) – tornaram-se cada vez mais difíceis de identificar quando a popularidade, o apelo directo aos sentimentos do público, se tornaram a principal avenida para o poder."
"Cleopatra's nose" (Daniel Boorstin)
A opinião da maioria é hoje a suprema instância e uma realidade omnipresente, graças ao "aumento da literacia, à educação pública, aos jornais diários e à impressão rápida, ao ascenso do voto secreto e ao alargamento do sufrágio, ao ascenso dos estudos de mercado e das sondagens eleitorais (…), a par do desenvolvimento das emissões de rádio e de televisão". O chamado "bom senso" é não só a coisa do mundo melhor distribuída (Descartes), como a mais influente. Mesmo se essa opinião tem muito de auto-reprodução e de efeitos de espelho, ela apresenta-se na política com a consistência da realidade objectiva. Não são precisos intérpretes para traduzi-la em discurso eleitoral. De certa maneira, a "adulação" tornou-se a exigência de um realismo incontornável. Não se podem ganhar eleições sem a demagogia que consiste em identificar a verdade com a opinião maioritária plasmada na medioesfera.
A antiga acepção da demagogia, nunca era a ir ao encontro do senso-comum, mas favorecer os desejos e os "instintos" populares contraprodutivos. Ora, no reino da doxa mediatizada, aqueles não se podem confundir com a opinião maioritária "estabelecida". Os falsos amigos do povo não ousam assim a verdadeira demagogia.
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