quarta-feira, 23 de setembro de 2009

FUNDAÇÕES


A Loba de Roma e Rómulo e Remo


"A palavra auctoritas deriva do verbo augere, 'aumentar' e aquilo que a autoridade ou aqueles que comandam aumentam constantemente: é a fundação. Os homens dotados de autoridade eram os antigos. O Senado ou os patres, que a tinham obtido por herança e transmissão daqueles que tinham posto as fundações de todas as coisas para vir, os antepassados, que os Romanos chamavam por esta razão maiores. A autoridade dos vivos era sempre derivada, dependente dos auctores imperii Romani conditoresque, segundo a fórmula de Plínio, da autoridade dos fundadores, que já não estavam entre os vivos."

"La crise de la culture" (Hannah Arendt)


Também o representante da Igreja devia benzer a primeira pedra do edifício a construir e, noutros contextos, o sacrifício dum animal ou da sombra duma pessoa eram considerados propiciatórios. A origem não pode ser obra do acaso e acreditava-se que a "pedra de canto" continha tudo o que permitia a durabilidade e a resistência da construção.

A paixão dos Gregos pela discussão pública oferece-nos o espírito contrário a este sentido de fundação dos Romanos. Um eco mais recente dessa autoridade do passado é o programa do nosso último ditador de não discutir nem a pátria, nem a autoridade, nem a família, nem o trabalho.

Como verdadeiros rústicos, os primeiros Romanos iam buscar as suas ideias à terra. Na fundação há muito do lançar da semente, semente que, como se sabe, estava ligada ao culto de Prosérpina e de Deméter. O tempo que a primeira devia passar debaixo da terra faz pensar não só no processo de germinação, mas também na alquimia da origem que guarda o sagrado no seu mistério. E até o império pode caber na metáfora agrícola. Anexar as terras adjacentes é o sonho do camponês que prospera.

Mas, entretanto, Roma adquiriu todos os vícios da administração.

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