quinta-feira, 10 de abril de 2008

SE EXISTIR UM PARAÍSO


O manuscrito de Proust

"E eu não pedia mais nada a Deus, se existir um paraíso, que poder bater contra esse tabique as três pancadinhas que a minha avó reconheceria entre mil, e às quais ela responderia com esse outro bater que dizia: "Não te agites, ratinho, compreendo que estejas impaciente, mas eu já vou." e que ele me deixasse ficar com ela toda a eternidade, que não seria demasiado longa para nós dois."

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


A mãe e a avó trocam de lugar frequentemente em Proust. Mais ainda nesta passagem em que "o morto agarra o vivo, que se torna o seu sucessor e parecendo-se com ele, o continuador da vida interrompida".

Esta sensibilidade que confundiríamos se lhe chamássemos feminina, visto que vem directamente da infância dentro de nós, é o órgão maravilhoso que nos permite trazer do passado o filão mais puro.

Mas, ai de nós! pagamos essa presença e o demorar-se nela com o castigo de Orfeu. A sombra regressa ao Hades e só a arte permanece.

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