sexta-feira, 18 de abril de 2008

PALAVRAS DITAS



"Uma das ideias que eu tinha discutido em The Poverty (of Historicism) era a influência da predição sobre o acontecimento predito. Tinha-lhe chamado o "efeito de Édipo", porque o oráculo desempenhou um papel muito importante na sequência dos acontecimentos que levaram ao cumprimento da profecia."

"Unended Quest" (Karl Popper)


E Popper refere explicitamente o caso da psicanálise e da admissão de Freud que os sonhos dos seus pacientes apareciam "coloridos" pelas teorias dos analistas.

Nesse sentido, a réplica de Hamlet a Polónio ("words, words, words") peca por subestimar a influência das palavras.

Aquilo que se diz não pode retroceder para trás da "barreira dos dentes". Entre os homens, as palavras estão muitas vezes na origem dos acontecimentos e onde se percebe isso melhor é no teatro, pois, como dizia Alain, aí nada se diz que não faça avançar a acção.

Ora, os oráculos estão por toda a parte e fazem predições, desde o desporto competitivo à economia e à política. Mas como são muitos e frequentemente se contradizem, nenhum deles tem a influência da esfinge.

Édipo não fugiu ao seu destino e quase que se podia dizer que ignorou a profecia toda a sua vida até que os factos lhe entraram pelos olhos dentro. Ao contrário de Laios, que tentou fintar o destino, mas em vão.

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