sábado, 12 de abril de 2008

OS DEMÓNIOS À ESPREITA


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"Pessoas antiquadas ainda dizem "Deus o abençoe" quando alguém espirra, mas já esqueceram a razão de tal costume. A razão era que se pensava que as pessoas expeliam a alma ao espirrar, e, antes que a alma pudesse voltar ao seu lugar, demónios que se achavam à espreita podiam entrar no corpo que estava sem alma. Mas se alguém dizia "Deus o abençoe", os demónios afastavam-se amedrontados."

"Ensaios Impopulares" (Bertrand Russell)


Como nos poderíamos rir desta crença? Troque-se demónios por um vírus e já tudo parece actualizado.

Um espirro no autocarro pode não ser a oportunidade de um demónio, mas precisamos de sorte e de algumas defesas para não ficarmos contagiados pela gripe.

São tantos os riscos e tantas as fórmulas de esconjuro para tais ocasiões, que se asseptizássemos a linguagem limpando-a de todas elas ficaríamos com uma linguagem pouco mais do que artificial, onde já não se veriam, como na secção do tronco duma árvore, as várias idades.

Até um simples voto de bom dia encerra alguma crença no poder mágico das palavras...

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