Cemitério de Valongo
Os versos na pedra tumular de Cândida Inocência apagam-se mais rapidamente do que eu pensava.
O anjo de seis anos que, segundo as palavras doloridas dum pai, subiu ao Céu em 1849, um ano depois do "Manifesto Comunista", há muito perdeu nesta Terra quem o lembre.
A velocidade da comunicação, nos nossos dias, torna também rapidamente ilegível o que ainda há pouco tinha sentido. A memória piedosa corre para salvar as efémeras inscrições.
Aqui relembro os versos, já interrogados:
Sob esta lousa que o meu pranto lava,
A estes cansados olhos te escondeste,
Filha chorada sempre em que eu achava
Meu porvir que morreu quando morreste.
Tu por quem eu só a vida amava (?),
Anjo pede p'ra mim ao Pai celeste
Em paga deste amor, desta saudade,
Um lugar junto a ti na eternidade.
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