segunda-feira, 7 de abril de 2008

LUZES INACTUAIS


"La Chambre Verte" (1978-François Truffaut)


"Em França, o número dos filiados em clubes de ténis passou de 50.000 em 1950 para 125.000, em 1963, atingindo mais de 500.000 em 1977, tendo quadruplicado assim em menos de oito anos. O dos praticantes de ski triplica entre 1958 e 1978 para atingir hoje mais ou menos - o que não é inteiramente por acaso - 600.000. Simultaneamente, o número dos que jogam futebol permaneceu mais ou menos estável (cerca de 1.300.000), bem como o dos adeptos do rugby (147.000). A preferência pelo tipo individual de prática afirma-se também nos desportos populares."

A. Cotta ("La Société ludique", citado por Gilles Lipovetsky)


É o mesmo movimento que esvazia as salas de cinema, em benefício da visão individual do vídeo ou do DVD.

Lembram-se do filme "Denise telefona" (1995-Hal Salwen)?

É possível a comunicação instantânea, urbi et orbe, sem a comparência do outro. Acabou-se, com isso, o risco das relações decepcionantes. É a felicidade por exclusão de partes. Só nos podemos desiludir a nós mesmos.

No limite, poderíamos manter uma conversa ininterrupta com um número indeterminado de personae, afectadas pela pequena anomalia de já todas "terem sido".

O céu estrelado fornece-nos a metáfora adequada, quando sabemos que essa luz maravilhosa não corresponde, em muitos casos, já a nada de actual.

A tecnologia está, assim, a realizar o sonho de Auguste Comte duma religião da Humanidade, em que os vivos e sobretudo os mortos, cuja "massa" é muito mais impressionante, têm uma presença o mais possível influente e absolutamente real (mas não actual).

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