Cómodo (161/192)
"Entre o "fiel" e o "infiel", a fronteira poderia ser bastante indecisa e movediça... O fiel define-se pela crença ou pela fé? Estes dois termos não designarão atitudes de sentido inverso? Toda a fé não implica um constante esforço de incredulidade, e a verdade de toda a descrença não reside na fé? É, enfim, possível conceber uma fé suficientemente ardente para não ser a todo o momento transida de credulidade, mais ou menos degradada em crença?"
"La foi d'un incroyant" (Francis Jeanson)
Suponhamos que a fé é um elevador movido pela força do nosso espírito. O esforço é demasiado grande para não procurarmos apoio, quase sempre, no travão que nos deixa num qualquer patamar, igual a todos aqueles pelos quais já passámos.
Subimos pela fé, mas descansamos na crença.
Quando julgamos ter alcançado o que procurávamos, o espírito torna-se esfinge, e nós tornamo-nos crentes.
O mundo dos fiéis é realmente outro Vale dos Reis. Só se contam os vivos entre os que duvidam no próprio momento em que se elevam.
Não há verdades feitas em lado nenhum. Nenhuma biblioteca nos dispensa de começarmos desde o princípio.
Cómodo, filho de Marco Aurélio votou ao desprezo toda a sabedoria paterna.
Um novo ser começa por pôr em causa as nossas certezas.
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