Thomas Bernhard (1931/1989)
"Efectivamente a fotografia é a arte diabólica do nosso tempo, disse eu para comigo, ela faz-nos ver anos inteiros e dezenas de anos e toda a vida rostos trocistas, quando houve apenas uma única vez esses rostos trocistas, apenas durante um único momento numa fotografia, que fizemos de forma absolutamente irreflectida, cedendo a uma ideia súbita."
"Extinção" de Thomas Bernhard
Devo confessar-me desapontado com o único romance de Thomas Bernhard que li até agora: "Extinção".
As primeiras cem páginas são uma série de flash-backs a propósito de algumas fotografias, arte que o narrador abomina por ser uma espécie de assassínio da realidade, apesar de precisar tanto dela para o comentário infinito.
Não é só a monotonia dos agravos familiares e da obsessão de Wolfsegg, o palácio dinástico, na Áustria mal-amada.
Como é que se pode escrever quinhentas páginas de "déjà vu"?
(Depois de acabar de ler, o "déjà vu" parece-me uma muita longa preparação das páginas relativas ao funeral dos pais, que são originalíssimas; TB, que se considera um artista do exagero, não chega a compensar o ódio do narrador de "Extinção" à sua mãe pelo louvor de Spadolini, o arcebispo amante, deixando-nos assim a sugestão de que mais do que uma pessoa o objecto desse ódio é um país e até certo ponto uma língua.)
2 comentários:
é um erro começar pelo "Extinção". não tenho nenhum método mas, por exemplo, acho que "Extinção" deve ser lido apenas depois de "Perturbação" (edição da Relógio d'Água") e deve ser dos últimos a ler, a par dos "Antigos Mestres", talvez.
a repetição, a musicalidade da repetição é uma das características de Bernhard. e atenção que há contradições profundas em Bernhard. ele é capaz de dizer que ama e detesta ao mesmo tempo, aliás, mais ou menos como qualquer pessoa honesta.
poderia continuar a defender o escritor e talvez o faça mais tarde
"O sobrinho de Wittgenstein" também não deve ser bom para começar...
Tentarei teu conselho avisado, C, mas creio bem que és por demais suspeita.
(Há muito que reprimia este desabafo. Obrigado, José).
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