terça-feira, 30 de julho de 2013

UM NOVO CEREJAL

Le Quatrième: Duceppe - La Cerisaie, d'Anton Tchekhov

 

"Ania: - Mamã!...Mamã, tu estás a chorar! Minha querida, minha boa mãe, minha linda mãe, eu amo-te...eu abençôo-te. O cerejal foi vendido, é verdade, mas não chores, mamã, tu tens a vida diante de ti. Tens ainda a tua bela alma, a tua alma pura!...Vem comigo, mamã, vem. Havemos de plantar um novo cerejal, mais belo do que este, tu vais ver. E uma alegria tranquila, profunda, vai estender-se sobre ti, como o sol, ao fim da tarde. E tu vais sorrir, mamã. Vem, mamã, vem!..."

Anton Tchekov ("La Cerisaie")

A ternura, as lágrimas, o sentimentalismo quase ridículo das personagens, sob o olhar compassivo do autor que as compreende como um médico de província que conhece toda a gente e respira o mesmo ar rarefeito.

O estilo melancólico, vagaroso, das paixões submersas, esconde-nos o drama. Ouve-se um tiro lá longe, fora de cena. Este mundo não se renova. A juventude mal chega a pronunciar a retórica que anos depois faria tanto efeito no mundo. E sempre aquele encontro com o predador involuntário, como na "Gaivota". Com o homem que chega de fora, sem nada para fazer, e destrói a beleza em que toca só para se entreter.

O "Cerejal" é, talvez, a peça mais perfeita. Nada de teorias, nem de factos históricos, "sem os quais nada se perceberia". Este teatro está atento a outros ecos, à escrita do vento.

De que fala a tentativa de consolo de Ania? De coisas impossíveis que soam a uma preparação para a morte. Uma das definições da filosofia...

 

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