quinta-feira, 25 de julho de 2013

JOGOS DE ESCÁRNIO E MALDIZER

Auto-de-fé em Lisboa

 

"(...) porque esse é o costume da nossa nação, elogiar com tal demasia, ou censurar com tal excesso, que em coisa nenhuma merecem crédito."

Luís António Verney

Um dos 'estrangeirados', em Roma, refere-se ao nosso carácter, em termos tais que a ideia podia ser transposta para os nossos tempos. Com uma reserva: livrámo-nos da adulação e do servilismo. Bem sei que alguns evocarão a cimeira das Lages, antes da agressão ao Iraque, ou o episódio do avião do presidente boliviano para demonstrar precisamente o contrário.

Se autores como Corneille e Molière, em troca da protecção real, eram 'obrigados' a desfazer-se em curvas, podemos compreender que outros absolutismos exigissem o mesmo. Nem sempre com o espírito de Pascal, que fazia a vénia com o chapéu apenas, e a outro chapéu.

De qualquer modo, o que eu diria constante, através dos tempos, no carácter nacional é o "escárnio e o maldizer". Veja-se a assembleia de deputados, tão confortável no seu papel de 'atirar pedras aos telhados de vidro dos outros'. Em certos partidos isso já nem é crítica, mas cerimónia. Surpreender os outros entra inequivocamente na má-educação. Por isso, o mais cerimonioso é o que é 'sempre igual a si mesmo'.

A crítica, aliás, é um termo que não se devia usar no que toca aos costumes destas assembleias. É mais pertinente dizer 'demarcação'. A coincidência de opiniões é fatal para os partidos.

Por isso, acho que o 'consenso' que se diz que o presidente procurava, só poderia vingar (adaptando uma célebre tirada de Manuela Ferreira Leite), suspendendo a partidocracia...por uns tempos.

 

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