sexta-feira, 5 de julho de 2013

ROMA NA ERA ELECTRÓNICA

 

A Antiga Roma e o seu peculiar sistema político, em que a plebe residente gozava de um poder exorbitante face aos restantes habitantes da República e do Império, através da pressão permanente da rua, é o exemplo histórico que mais se parece com o moderníssimo fenómeno das 'flash mobs' e das massas instantâneas convocadas na 'Rede'.

As chamadas primaveras árabes são outro exemplo de irrupção da tecnologia num mundo quase medieval que se presumia imóvel e ao abrigo da contaminação cultural do Ocidente. O meio é aqui inequivocamente a 'mensagem'.

Fala-se em 14 milhões de turcos nas ruas, contra a sociedade imobilizada e o fechamento ao mundo defendido pelos islamistas tradicionais. O parque de Taksim tornou-se o símbolo desse anseio da juventude turca pela modernização do seu país. É evidente que o grande contraste entre a vida numa cidade como Istambul, mais populosa do que Portugal, com as zonas rurais da Turquia, coloca um problema difícil à democracia. Por que carga de água deviam os cidadãos de Istambul ou Ancara viver segundo a vontade do eleitorado rural, aquele em quem Erdogan confia para afogar o voto laico no oceano islâmico?

Este caso e outros, como o do Egipto, um pouco mais ambíguo, dado o papel dos mlitares, onde já se chegou ao ponto de prender o primeiro-ministro eleito há um ano, por causa da sua agenda islamizante, corresponde a um processo de ruptura cultural e de aceleração das desigualdades por via da tecnologia que tem muitas analogias com as tácticas da plebe romana. Na antiga capital, a multidão podia encher as ruas facilmente, com a 'técnica' da 'boca-à-orelha', estava sempre 'mobilizada', fazendo o que hoje chamaríamos de pressão lobística, porque esse era de facto um poder 'impressionante' (e impressionável, como se vê no discurso de Marco António, em Shakespeare).

Sabemos como os patrícios 'moderaram' essa plebe insaciável com a instituição tribunícia. Mais tarde, os césares e as campanhas militares impuseram outra espécie de ordem.

Não sabemos qual será o futuro das 'massas instantâneas'. Mas uma das soluções possíveis é tornar o voto universal e igualmente instantâneo ou... consagrar a singularidade da grande cidade.

 

 

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