quinta-feira, 18 de julho de 2013

O ESPECTRO QUE FOI

Le Spectre de Vermeer de Delft, pouvant être utilisé comme table (Salvador Dali)

 

"O consenso é apenas um estado das discussões e não o seu fim. Este será mais a paralisia."


(Jean-François Lyotard, ("La condition post-moderne")


Por que é que perdeu validade a máxima tradicional que diz que 'da discussão nasce a luz? E que é que isto tem a ver especialmente com a nossa época?

É preciso acreditar que o sentido dos discursos é a sua verdade para achar que a 'luz' se obtém pela aproximação das ideias ou por uma espécie de síntese hegeliana.

De facto, o consenso não tem nada a ver com a verdade, mas, por exemplo, com coisas como o cansaço ou a preguiça mental e, claro, com a capacidade de propagarmos aos outros a nossa auto-ilusão. A forma física e um fato de cor diferente do fundo do cenário ajudam muito na televisão (Nixon, em 1960, não conhecia ainda as novas regras do jogo).

O consenso equivale, assim, à 'paralisia' das ideias cujo confronto é indispensável à democracia. E a nossa filosofia da linguagem não nos permite enganarmo-nos sobre isso.

Hoje, em Portugal, procura-se um consenso que, no entanto, deixa a esquerda radical de fora. Só isso impede que comparemos as condições do protectorado de facto a uma ditadura. A direita e o PS poderão suspender a crítica recíproca durante a crise e a dependência dos credores.

Grande é a responsabilidade do resto do espectro (que, desde há muito, deixou de "rondar a Europa").

 

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