quinta-feira, 4 de julho de 2013

O PRIMEIRO DEGRAU

Francis Ponge

 

"O amor-próprio e a pretensão são as primeiras virtudes. Nos seus limites, define-se a pessoa."

(Francis Ponge)

Segundo a lição de Comte, Chartier dizia que é o inferior que regula o superior.

Aquelas virtudes, por exemplo, de um ponto de vista cristäo, quase nos parecem vicios...porque desde a catequese é o esquecimento de si próprio e a humildade que são louvados, sem grande utilidade para os que 'sobem' dentro da Igreja, pois é a vaidade e a soberba que são permanentemente encorajados pelos poderes, e o desmunido padre de Bernanos ("Journal d'un curé de village") é facilmente acusado do pecado de orgulho.

Mas a verdade é que não se constrói o amor pelos outros na base do 'primitivo' desprezo por si próprio, nem se procura a verdade sem alguma vaidade sobre a nossa capacidade de a alcançar.

Digo acima 'primitivo', porque é possível ultrapassar o amor-próprio que nos é tão natural no amor 'franciscano' por todas as criaturas (tão 'louco' ele era...).

O orgulho da inteligência e a vaidade associada podem também tornar-se passivos. É quando, por exemplo, os místicos atribuem a Deus toda a inciativa. "Não procuro, encontro".

 

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