terça-feira, 23 de julho de 2013

NÃO É PERMITIDO EXTRAPOLAR

 

Medina Carreira fala sempre em demonstração, quando apresenta os gráficos que, apesar disso, todos os ministros tinham obrigação de conhecer, não menos do que os economistas. Não menciono os partidos (ou os seus chefes) porque são, sobretudo, máquinas eleitorais, como se viu com a já célebre lista de Seguro.

É evidente que, em palavras, se pode negar a própria existência dos credores. E isso dá até imenso jeito quando se foge das responsabilidades como o 'diabo da cruz'. Medina tem razão. O PS agradece a 'ostracização' a que, desde o início, foi votado pelo governo de Passos Coelho. Toda a esquerda agradece.

Mas voltando à demonstração de MC. A economia vista através de um balanço (que ficaria muito bem em 'Power Point',) não deixa dúvidas nenhumas. E o professor "põe o nome às vacas": a tão propalada 'reforma do Estado', sem a qual 'não vamos a lado nenhum', é, principalmente, um corte profundo nas pensões.

Não adianta atacar a frente económica (como apregoa o PS e até uma grande parte dos partidários do governo), nem "escavar mais o buraco" (feliz expressão de Sócrates Menor), cortando nas despesas. Isto é, os únicos cortes 'produtivos' são os que se puderem fazer nas pensões da grande maioria dos reformados. Mas isso não é poupar na despesa, é cura, é cauterizar a ferida aberta pela demagogia partidária, com particular relevância para o PS. (MC não chega a dizer tanto, mas a coluna das pensões e dos anos em que 'descolaram' é eloquente).

O estudo refere-se à última década. Se aplicássemos a mesma contabilidade ao início do regime democrático, veríamos que o mesmo 'irrealismo' presidiu ao chamado regime das domésticas, ao alargamento dos benefícios e à criação do salário mínimo. Qualquer contabilista poderia carimbar esse programa de despesista e anunciar para mais tarde, o encontro com a 'realidade'. É verdade que não falta quem veja só isso no "25 de Abril".

Medina não disse que a Segurança Social tem vindo a ser a almofada desta crise e das outras crises. Alguns dos problemas da indústria e dos serviços, o défice de organização e de produtividade das grandes empresas, foram resolvidos através de 'reestruturações', cavalgando-se umas às outras, sempre com a suavização dos custos sociais pela Segurança Social, e isto desde o início, com todos os partidos do 'arco' no governo. Era bom, decompor essa coluna amaldiçoada para ver o que está lá dentro e a respectiva história.

Medina abstém-se de falar sobre a envolvência internacional dos nossos problemas, a não ser para dizer que os tempos não nos são favoráveis, porque a própria Europa está em crise.

Mas que sentido tem emagrecer e perder a saúde só por simpatia com a doença histórica dos alemães que ficaram traumatizados com a inflação nos anos 20 do século passado? Nada nos garante que não morreremos da cura, embora, talvez, "sem dever nada a ninguém", íntegros, mas falidos de vez. Infelizmente, não temos o 'espírito do protestantismo'.

A alternativa não é viver à custa desse povo industrioso e organizado, como gosta de ser vista a nação alemã, porque também eles dependem dos outros países e dos seus mercados. Não queremos os seus traumas, nem o seu dinheiro, queremos que e a 'União' Europeia assuma o seu projecto.

Aos gráficos de Medina Carreira faltam a política e a ética que são a componente que faz da economia política uma 'arte' imprevisível. Não é permitido extrapolar. Afinal, nenhum professor de economia ou de finanças previu a implosão da URSS ou a crise dos 'subprime'...

Em suma, por que é que só temos na televisão opiniões como a de um Medina Carreira que quer provar mais do que pode, e nos promete "sangue, suor e lágrimas" para ganhar uma guerra de outros? Por que não vemos, também, alguma coisa como isto? A verdade é que o medo prende mais a audiência. O professor fala em 'Deve e Haver' que qualquer dona de casa compreende. João Pinto e Castro, e outros como ele, não conseguem o milagre de apresentar com igual simplicidade o que é a complexidade mesma da história e da política. Quando as coisas se complicam, a nossa atitude natural é arranjar uma teoria mais simples para ficarmos com a ideia de que estamos 'informados' e de que 'sabemos'. Medina Carreira especializou-se em gráficos (sem 'Power Point'), é amavelmente truculento, e oferece-nos um mundo muito mais compreensível.

 

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