quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

ASSEMBLEIAS



O melhor seria assistir a um plenário sem falar e observando apenas. Mas o espectáculo de tantos homens subitamente decapitados pela paixão é demasiado forte. Os que tomam a palavra, como se diz nas assembleias, sonham talvez em assumir a cabeça, e o orador que domina a sua voz e as suas expressões atrai imediatamente. Mas há um problema que tem de resolver: o de conciliar as vozes ou de refutar o que dizem.

Uma proposta admitida deixa de pertencer ao proponente e com razão. Ela é ordem e pensamento para o espírito colectivo que naturalmente divaga e se agita. Por isso nada confunde mais do que uma soma de propostas, ou uma oposição que não se compreende como partido. As pequenas diferenças do texto encontram sempre eco no indivíduo, feliz por emergir da massa e a analogia dispersa os votos.

Porém, quando a assembleia se pode dividir em partes reconhecidas e artificialmente inconciliáveis verifica-se um simulacro de pensamento. É o critério do partido que pensa. O zelo contrário é visto como uma prova e basta negar para ter razão. O exemplo que cita Mc Luhan do sistema bipartido no parlamento inglês, em que o deputado se vê dispensado de reflectir sobre a verdade e o erro, pois lhe basta olhar para a bancada da frente, vem ao encontro desta ideia.

Pode-se assegurar uma unidade funcional maior e mais participada através duma divisão regulada, contudo, o espírito de complacência em relação ao partido retira todo o valor intelectual ao debate. No fundo, a instituição justifica-se pelo consenso que é capaz de criar.

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