domingo, 30 de setembro de 2007

PRAGMATISMO


Deng Xiao Ping (1904/1997)


"Conforme as reformas começaram a fazer-se sentir, os lucros foram caindo; começaram também a convergir, uma vez que os sectores mais lucrativos enfrentaram a feroz competição do governo local, das firmas privadas e das firmas estrangeiras. Durante os anos 90, as taxas de lucro médio caíram cerca de um terço; nos sectores mais apetecíveis caíram pelo menos metade. O efeito disto foi a redução do desperdício, um melhor retorno aos clientes chineses pelo seu dinheiro e para a China, potencialmente, um papel nos mercados mundiais. O poder da escassez (scarcity power) desapareceu.

"The Undercover Economist" (Tim Harford)


O autor analisa as razões do sucesso económico da China, desde que, terminada a loucura do "Grande Salto em Frente", e com a morte do grande líder, os dirigentes se viram na necessidade de substituir, pouco a pouco, o plano centralizado pelo mercado.

Não se trata de um passo atrás (para dar a seguir dois passos em frente), como foi a NEP de Lenine. É uma decisão política, em face do fracasso da orientação anterior, ainda sem cobertura teórica e a contrapelo da ideologia oficial.

De facto, a centralização da economia parte do pressuposto de que é possível prever o futuro, quando se acredita que a História obedece a leis (já descobertas). Ora, a experiência demonstrou que essa crença era demasiado optimista.

Em relação à perestroïka de Mikhail Gorbatchev, a diferença é que esta minou directamente o poder do partido com a consigna fatal da transparência (sendo o secretismo essencial ao arbitrário burocrático) e da reestruturação que, como nos relata Derrida, foi visto por alguns como uma desconstrução (sem dúvida, por não existir nenhum elo que não estivesse implicado no sistema), enquanto que a viragem chinesa foi o mais pragmática possível, de acordo com a decisiva influência de Deng.

A doutrina nunca foi posta em causa e, provavelmente, será abandonada de forma indolor pela força da realidade social, à medida que os velhos quadros forem substituídos.

E se a democracia vier a vingar na China, será o resultado de uma grande paciência política.

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