"A vida dos outros" (Das Leben der Anderen,
2006 - Florian von Donnersmarck)
A cena do elevador em que o desmoralizado capitão da Stasi encontra uma criança que revela um segredo demasiado perigoso para os pais, faz-me lembrar o final de "The Deer Hunter", quando o dedo no gatilho fica suspenso diante do veado.
A consciência da beleza, do valor da vida, é o que detém a personagem interpretada por Robert De Niro. E este polícia, a quem o cinismo dos seus superiores vem abrindo os olhos, automaticamente também leva o dedo ao gatilho, com a pergunta fatal nos lábios, sobre quem acusa assim a Stasi de fazer mal às pessoas. Mas pára a meio e, em vez disso, pergunta o nome da bola que o menino traz na mão.
O partido todo-poderoso é uma igreja de descrentes. Obrigados às palavras sacramentais e aos rituais da ordem, os jovens principiantes contam anedotas sobre Honnecker e os altos funcionários corrompem e esmagam aqueles que se atravessam no caminho da sua promoção ou do seu prazer.
A evolução do capitão Wiesler, que "monitoriza" a vida privada do poeta Dreyman, rival impotente do ministro que lhe cobiça a mulher, é uma espécie de terapia do concreto, do mundo real.
A vida dos outros é a melhor acusação da mentira oficial.
Como diz Dreyman, ninguém que oiça como deve ser esta música (sonata for a good man, de Gabriel Yared) pode ser inteiramente mau.
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