sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O MUNDO DE APU


"The World of Apu" (1959-Satyajit Ray)

Apu é um estudante pobre de Calcutá, que é convidado um dia por um amigo para um casamento na província.

Mesmo antes da cerimónia, o noivo revela padecer duma enfermidade grave e o casamento é dado sem efeito. Mas, segundo a tradição, a rapariga será para sempre amaldiçoada, se não casar nesse dia. O amigo procura convencer Apu a salvar a situação.

No primeiro momento, o estudante, que tem pretensões literárias e sonhos de independência, considera a proposta como uma coisa de loucos, mas a gravidade dos circunstantes e a aflição daquela família convencem-no a fazer um gesto que lhe parece nobre.

O casal logo a seguir vai viver no tugúrio do estudante na grande cidade. Aparna, a jovem esposa, regressa por um tempo a casa dos pais, por causa da gravidez.

Apu conhece o amor, sobretudo, o da ausência da amada. O destino, porém, como aquele velho que no autocarro parecia invejar a paixão com que relia uma carta de amor, pôs termo a essa felicidade enviando-lhe um mensageiro com a notícia da morte de Aparna ao dar à luz Kajal, um rapaz.

Apu, destroçado, inicia uma peregrinação pelo interior do país, cortando todos os laços e destruindo o manuscrito do seu romance. O amigo vai encontrá-lo a trabalhar numa mina e tenta chamá-lo à sua responsabilidade de pai.

Apu procura o filho em casa do avô, mas é rejeitado pela criança. Porém, no momento em que se resignava a partir sozinho, dá-se conta de que Kajal o segue à distância.

Tal como a noiva que não queria e que lhe veio a ser mais cara do que os seus sonhos, a criança indesejada e que jurara amaldiçoar por ser a causa da morte de Aparna é outro presente inesperado dos deuses.

Neste filme, transbordante de humanidade (não foi Renoir o mestre de Satyajit Ray?), há coisas admiráveis, como a transformação do pudor e da reserva de Aparna na confiança e amizade que se segue a uma intimidade perfeitamente elíptica. E este raccord sublime: quando a avó chora diante do berço a morte de Aparna, como que pressentindo a sua própria partida, solta um grande suspiro que se prolonga na imagem de uma onda que se desfaz na praia e quase vemos o seu refluxo arrastar consigo esse corpo cansado.

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