segunda-feira, 9 de julho de 2012

A TÉCNICA LUDOVICO

"A clockwork orange" (Stanley Kubrick)


"A visão não é já a possibilidade de ver, mas a impossibilidade de não ver."

(Gary Hill, citado por Paul Virilio)


A experiência realizada em Alex, o herói negativo de "Laranja Mecânica", conhecida por técnica Ludovic, procurava isso mesmo: a impossibilidade de não ver. O espectáculo da violência não podia ser moderado, as pálpebras eram paralisadas de modo a não se permitir nenhuma pausa e a tornar a visão insuportável, segundo a "terapia da aversão".

Alex pôde sair da prisão, reconciliado com a sociedade, mas a experiência tinha feito do cadastrado um castrado, inadaptado ao seu ambiente agressivo.

A sociedade permite-se a aparência da tolerância, mas sempre à custa de um maior auto-controlo dos indivíduos. Esse controlo implica a existência de sinais que não podem deixar de ser vistos. É como na velocidade, em que é obrigatório ver.

Assim, as coisas que poderíamos ver e que nos permitiriam a expansão do nosso ser cedem o lugar ao mais urgente.

O preço da velocidade é um maior auto-controlo. Mas no horizonte perfila-se já o automatismo que nos dispensará desse esforço e do risco consequente.

Como Alex, quando sai da clínica, poderemos viciar-nos numa segurança que não existe na realidade.

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