quarta-feira, 18 de julho de 2012

OLÍMPICOS E BUROCRATAS



"O Olimpo é uma revolta da leveza (légèreté) contra a precisão da lei, que se chamava então: 'pondus et mensura', 'peso e medida'."

(Roberto Calasso)



Não, os deuses não viviam numa democracia, cada um tinha as suas prerrogativas mas 'governava' como os seus irmãos e o próprio Zeus deixavam. Voluntarismo é uma noção que, aplicada ao Olimpo, não teria sentido. Não havia uma lei, mas havia uma justiça a que até mesmo o pai dos deuses se submetia.

Se quiséssemos falar em termos hegelianos, o Olimpo era uma preparação do Deus único e da razão universal, e o paganismo, como se convencionou chamar a essa religião de sustentável leveza, pertence a uma etapa para sempre vencida.

Estendendo a analogia à política, o Estado soviético corresponde a uma ideia muito mais racional do que o Estado burguês (chamemos-lhe assim, para efeitos de comparação, visto que a palavra soviético não designa um modo de produção). Este (o Estado burguês) teve uma evolução 'natural', muito parecida com um organismo vivo. Aquele nasceu da cabeça de um ou dois profetas, armado como Minerva. E essa não era, certamente, uma das suas menores seduções.

Para se falar hoje, porém, de 'peso e medida' (ou excesso de peso) dum lado e leveza (ou ligeireza do outro), deparamo-nos com inextricáveis dificuldades, porque a tecnologia mudou os dados do problema. Pensemos só no mais famoso "híbrido" dos nossos tempos: a China.

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