quarta-feira, 4 de julho de 2012

O ANJO

Primo Levi

"Muito ignorante, muito inocente e muito civilizado". 


(Primo Levi, de "Cesare" - Lello Perugia, o seu companheiro italiano na viagem de regresso, citado por Tony Judt)



O adjectivo 'civilizado', neste contexto (Levi regressa de Auschwitz) é terrífico. Porque os "campos de concentração" não são o produto duma sociedade primitiva. Os alemães não caíram na barbárie, contra tudo o que foram até ali. Foi uma civilização refinada que os criou, a mesma que deu à humanidade a grande música e a filosofia de Hegel e de Marx.

Então, impõe-se a evidência de que só podemos lidar com a "metamorfose" (como em Kafka) recorrendo ao conceito de mal absoluto (o que nega absolutamente o homem), com raízes na própria civilização.

O fenómeno parece, pois, num certo estádio, ser compatível com a ignorância e com a inocência.

Antes de cair no abismo, como se há-de julgar o Anjo?

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