domingo, 22 de julho de 2012

A INTRIGA DAS PARCAS





"A palavra designa aquilo a que se pertence sem se ter a posição privilegiada do sujeito que contempla. A intriga prende-se ao que se desprende, prende-se ao ab-soluto - sem o relativizar."


Emmanuel Lévinas ("Dieu, la Mort et le Temps")


Tantas situações há em que não sabemos quem age em nós e por nós (podíamos falar em instintos, pulsões, mas donde vêm eles?). O sujeito seria uma espécie de piloto, uma vezes consciente, outras automático e outras simplesmente desligado. E o sono que estado é? Apenas uma luz de vigia?

Alain dizia que nunca iniciámos nada, que damos, sim, continuidade a alguma coisa que já começou sem nós (mesmo se em nós).

O sujeito da experiência não é assim todo o sujeito. Nesta palavra, segundo Lévinas, há também passividade (estar sujeito a), e é o mundo objectivo e intra-subjectivo que é a matéria da nossa experiência.

Mas o que vem do princípio - e o que não tem origem (an-árquico, conforme o filósofo), o invisível, o inaudível, o intocável, o que não atinge a "distância média" musiliana, ou a excede, isso não é experiência, porque não chega nunca à consciência.

Como a massa desconhecida do universo, a intriga é pois a trama que nos trama e que entretece a nossa vida como as mãos das antigas Parcas: Cloto, Atropos e Lachesis.

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