sábado, 14 de julho de 2012

QUARTETO


"Estou a acostumar-me à ideia de ver cada acto sexual como um processo no qual quatro pessoas estão envolvidas. Teremos muito que discutir sobre isso."

( Freud, "Cartas")



Sob esta epígrafe, Durrell começa o seu "Quarteto de Alexandria". Esse número, estrutural na teoria do criador da psicanálise, podia ser outro no romance. Além disso, aqui, os dois homens (Balthasar e Mountolive) e as duas mulheres (Justine e Cléa) cujas histórias formam o quarteto não têm qualquer relação familiar entre si e uma das mulheres (Justine) também podia dizer-se um andrógino.  Aliás, o autor diz que a mítica cidade tem seis sexos.

Mas o importante, não é verdade, é a ideia freudiana da realidade simbólica destes actores numa actualidade que se caracteriza pela ausência. O "tour de force" é de monta. E o seu êxito dentro da tradição pragmática e empirista dos americanos põe em causa algumas ideias feitas.

Lawrence Durrell reserva a mais secreta iniciativa à cidade de Cavafi (o 'velho poeta' que se encontra com Balthasar). Em última análise, é Alexandria que tece o destino das personagens, e que constitui o fantasma do "quarteto".

Freud não anda longe desta ideia. Em cada acto sexual, como ele diz na correspondência, há, entre presentes e ausentes, quatro 'oficiantes' do que podia ser o serviço duma divindade. Assim se poderiam ler estas histórias entrelaçadas pela força instintiva da grande cidade.

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