terça-feira, 10 de julho de 2012

FALSOS TESTEMUNHOS

Alexandre Soljenitsin (1918/2008)


"Soljenitsine adiantou mesmo a hipótese de que a Gestapo torturava para obter "factos", enquanto a polícia secreta russa torturava para produzir testemunhos falsos."

(George Steiner:"Aos olhos do Oriente")



O falso testemunho, neste caso, envolvia a entrega da alma. Não bastava ser forçado a "confessar", a trair, a pôr a vida de terceiros em grande risco. A ideia é a de que o poder soviético precisava de corromper para "lavrar" a história, porque os factos lhe eram, no fundo, indiferentes.

Isso podia dever-se à natureza dogmática da ideologia que conferia ao Estado uma inexpugnável posição em relação à "verdade histórica". O regime, simplesmente, estava justificado, fizesse o que fizesse.

Os "processos de Moscovo" demonstram que essa ideia era ainda, nos anos trinta, "transversal" ao poder e à dissidência. Os réus prestaram-se a toda uma encenação que os mostrava aos olhos de todos como necessariamente culpados, porque o poder "proletário" não podia enganar-se.

A colaboração de homens como Boukharine, Kamenev ou Zinoviev na sua própria condenação ultrapassa a técnica policial e mesmo a questão da eficácia da ideologia. "Pertencer " à Revolução, apesar de todas as distorções burocráticas e da natureza monstruosa do poder,  tinha um significado que só a religiosidade e a ideia de uma "alma russa" permitem compreender.

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