Georges Danton (1759/1794)
Quando Paris se mobilizava para a guerra sob a direcção da Comuna, depois dos acontecimentos de Agosto de 1792, "um bando de mulheres furiosas encontrou Danton na rua e injuriou-o como quem injuriara a própria guerra, acusando-o de toda a Revolução, todo o sangue que ia ser derramado, e da morte dos seus filhos, pedindo a Deus que tudo recaísse sobre ele."
Danton não se espantou. "Pôs-se em cima de um marco da rua e, para as consolar, começou por injuriá-las na sua língua. As suas primeiras palavras foram violentas, burlescas, obscenas. E ei-las pasmadas. O seu furor, verdadeiro ou simulado, desconcerta o furor delas. Este prodigioso orador, instintivo e calculado, tinha por base popular um temperamento sensual e forte, feito para o amor físico, onde dominava a carne e o sangue; Danton era em primeiro lugar um macho; havia nele muito de leão e de mastim, e também muito de touro. A sua máscara assustava."
"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Michelet termina este episódio dizendo que "as mulheres não aguentaram; choraram pela França em vez de chorar pelos seus filhos, e, soluçantes, fugiram, escondendo o rosto no avental."
Sentimo-nos com o orador e a sua "sublime fealdade" frente a esse grupo de mulheres, numa rua de Paris. A vivacidade da descrição dá-nos uma compreensão intuitiva do clima revolucionário.
As forças que actuam por detrás destas figuras já são demasiado abstractas e sujeitas a caução. Mesmo esta pitoresca psicologia sexual oferece resistência, podemos apoiar-nos nela. A anedota poderá ser dispensada quando pretendemos atingir o particular e o individual?
Não há aqui nada a deduzir (de uma hipotética lei), mas tudo a interpretar. Dir-se-ia que se há uma lei é a da não literalidade, por isso os mitos nos dizem mais sobre o que aconteceu do que a notícia.
Porque, como alguém disse, se pressupõe um sentido antes mesmo de o termos encontrado. Coisa que falta à notícia, mas que é o principal no mito.
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