(Charles Chaplin in "The Tramp")
Charlot é um gentleman que vive abaixo dos seus pergaminhos. Não abdica duma indumentária formal, da sua cana e do chapéu de coco, quando não das luvas. Essa aparência exprime a reivindicação de ser tomado pelo que não é, ou uma adesão ingénua aos valores da sociedade que o põe à margem?
Ao mesmo tempo que limpa os ouvidos com o guardanapo, serve-se do chapéu para um ballet de vénias no registo da "delicadeza". Porque tropeça em toda a espécie de obstáculos, anda munido de uma escova para limpar o pó do fato e tudo lhe serve para cumprir os preceitos higiénicos a que se sente obrigado pela sua imitação da dignidade. Mesmo a cana lhe pode ser útil para limpar as unhas.
Esta rigidez iconográfica é compensada por uma incrível agilidade física que lhe permite escapar por entre as pernas dos polícias ou esquivar-se ao murro do brutamontes.
Era preciso que a sociedade arrogante e preconceituosa da sua origem fosse confrontada com este vagabundo que insiste em ser, mesmo nos maiores apertos, uma paródia do aristocrata.
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