sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A RAZÃO À DEFESA




"Para todos os géneros de sistemas reais que existem no mundo, quer se trate de unidades físicas ou biológicas, para as pedras, as plantas ou os animais, o mundo é demasiado complexo: ele contém mais possibilidades do que aquelas a que o sistema pode reagir, ao mesmo tempo que se conserva. Um sistema posiciona-se face a um "ambiente" constituído de maneira selectiva e quebra-se ao contacto de contradições que se produzem entre o mundo e o meio ambiente."

"La Confiance" (Niklas Luhmann)

Depois que os limites da razão foram postulados por Kant, esta ideia de que o mundo é mais complexo do que aquilo que podemos racionalizar e compreender impunha-se por si própria.

Mas Luhmann dá uma volta ao problema, consequente com a sua expulsão do sujeito, o qual depois de ter de abandonar o paraíso deixa de estar no centro das coisas. A razão não seria já o instrumento para desbravar o desconhecido e acrescentar novos conhecimentos à herança da humanidade, como o indómito explorador cuja pesquisa não conhece limites. Não, agora ela aparece-nos ao serviço de uma estratégia de sobrevivência, protegendo a vida humana dos "raios" da complexidade.

Os seus maiores feitos não são no sentido de nos aproximarmos do conhecimento da verdade, num progresso ilimitado de raiz iluminista, mas, à medida que a nossa organização se complica, nos protegermos da nossa ignorância face ao que nunca poderemos sondar na sua verdadeira profundidade.

A redução da complexidade defendida por Luhmann seria assim como que o regresso a um antropocentrismo defensivo e sem ilusões.

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