"O retrato de Dorian Gray"
A ideia, expressa no romance de Oscar Wilde, "Dorian Gray", de uma imagem que imediatamente revelasse a qualidade da alma de uma pessoa é muito interessante e é aparentada com a feitiçaria.
Como se sabe, Dorian vendeu a alma pela juventude (como Fausto): ele conservaria sempre os seus vinte anos e, em sua vez, o retrato envelheceria, expressando não só a decadência física, mas a própria degradação moral a que está associada a transacção com o diabo.
Tendo levado uma vida criminosa, menos em função desse pacto do que da nefasta influência de um cínico, Dorian, no final, põe termo à vida atacando o retrato e trocando ambos as máscaras.
Por muito que os olhos sejam o "espelho da alma", conservam sempre o ambíguo da profundidade. No pacto de Dorian Gray, o retrato é, sob o aspecto de uma fealdade crescente, o espelho que diz toda a verdade, mesmo a mais secreta, o espelho que todos nós precisamos de esconder. E é o que faz a personagem, levando o retrato para o sótão e passando longas horas diante dele, sem testemunhas.
Se pensarmos bem, é o segredo que nos concede a liberdade de mudarmos, pois nos protege do juízo definitivo dos outros e de, com isso, nos tornarmos a própria máscara.
0 comentários:
Enviar um comentário