Diante dum espectáculo como o mar, de alguma maneira não estamos ali.
A nossa atenção não sabe sobre o que fixar-se. Proteu aparece e logo se esconde.
Seria preciso, talvez, fazer o inventário do que sentimos. Todos os pontos de luz na água, o desenho da espuma, a curva da onda que se desfaz, depois a areia e o céu que, hoje, em vez de ser dum monótono azul, parece uma cortina de teatro que a todo o momento se vai abrir, com as gambiarras já focadas no proscénio.
Talvez, assim, percorrendo todas as percepções, nos enchêssemos com esse espectáculo, sem distracção alguma.
Mas o melhor seria ainda imitar o que vemos, reproduzindo cada nuance das cores e desenhando as linhas, fechando ou modelando as formas.
Se pintasse o mar (mas sem demasiada técnica, nem cedendo a automatismo algum), com a demora e a hesitação da inexperiência, seria acaso possível atingir a transparência?
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