quarta-feira, 22 de junho de 2016

UMA IDEIA DE ARENDT

(Hannah Arendt)


"A palavra "auctoritas" deriva do verbo "augere", "aumentar", e o que a autoridade ou aqueles que comandam aumentam constantemente é a fundação."

(Hannah Arendt)

Foi assim que Roma criou a partir da sua lendária origem uma fonte de poder legitimado. Quanto mais perto dessa origem, maior a distinção.

Como se vê, a força ou a riqueza não eram suficientes para fazer aparecer a autoridade. A antiguidade de uma família, ao mesmo tempo que a aproximava de um passado em que os deuses e os heróis andavam pela terra e fundavam as cidades e escreviam a gesta dos povos, tornava os seus membros os mais 'qualificados', diríamos agora, para o exercício do poder.

Este espírito, tão contrário ao da democracia, de uma maneira ou de outra, estava no cerne de todo o regime aristocrático.

Como sabemos, o dinheiro acabou por comprar esses títulos e tornar a aristocracia uma impostura em que ninguém acreditava. Notemos que a supremacia da antiguidade não escandaliza a razão, como vemos pelo valor da origem em todas as religiões. Mas, hoje, não há razão que não proteste diante de qualquer sacralidade da hierarquia ou dos privilégios que infrinjam a norma de que todos os homens nasceram iguais. Só os novos heróis do desporto ou do espectáculo podem gozar deles com a secreta aprovação das massas.

Mas é claro que o valor da fundação não podia resistir à acção dos séculos e à extinção dos herdeiros dos 'founding fathers'. A aristocracia teve uma morte anunciada, o que não aconteceu com o mito dos 'melhores'. E daí a sobrevivência de regimes ou organizações fundadas na meritocracia e na especialização.




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