quarta-feira, 15 de junho de 2016

GUERRA DE RELIGIÃO




"Os antigos interesses de cada nação foram esquecidos por interesses novos; às questões de território sucederam questões de princípios. Todas as regras da diplomacia se encontraram misturadas e enredadas, para grande espanto e grande dor dos políticos desse tempo. Foi precisamente o que aconteceu na Europa depois de 1789."

"L'ancien régime et la révolution" (Alexis de Tocqueville)

Segundo o historiador, não há exemplo de uma revolução política como a Revolução Francesa; só se encontrariam semelhanças nas revoluções religiosas.

As ideias dos filósofos do século XVIII prepararam, sem dúvida, menos o povo do que as elites para o questionamento das fundações do (seu) poder.

Desagregaram-nas em pouco tempo, fazendo-lhes sentir, pela primeira vez, a 'má-consciência' e puseram a nu a falta de justificação dos seus privilégios. Ora, esse novo sentimento foi uma espécie de conversão silenciosa, embora se discutisse nos salões aristocráticos com a liberdade de espírito que, do ponto de vista do 'interesse de classe', essa fosse uma atitude que roçava a frivolidade.

Tocqueville refere precisamente os antigos e os novos 'interesses'. E Marx viu nisso uma passagem de mãos do poder de uma classe ociosa e decadente para uma classe activa que já dispunha dos meios necessários para suceder àquela.

A noção de interesse, pelo seu lado, é demasiado vaga. Quantos não estiveram, nessa guerra civil tornada numa guerra europeia, contra os seus interesses? Os princípios não são interesses, sendo até 'desinteressados'.

O futuro não muito longínquo corrigiu a percepção errada dos interesses que estavam em causa, bem como dos meios para os proteger. Afinal Napoleão veio acertar o relógio da história, pondo fim à 'guerra de religião'.

De religião, na verdade, mas da religião em que o homem é o seu próprio deus.


0 comentários: