domingo, 26 de junho de 2016

COMO OS DEUSES


LUCIO CORNELIO TÁCITO


"Principes instar deorum esse." (Os imperadores são como os deuses)
(Tácito) 

Este crime foi chamado de 'lesa majestade divina' em lei posterior. Não era crime reparar a estátua do imperador que estivesse arruinada pelo tempo, atingí-la com uma pedra por acaso, fundí-la se não tivesse sido consagrada, usar de meros insultos verbais contra o imperador, faltar ao cumprimento de um voto jurado pelo imperador ou decidir um caso contrariamente à constituição imperial." 

in "Expansion of the law of treason under Tiberius" (Wikipedia e Encyclopædia Britannica) 

Eram como os deuses, mas não inspiravam um terror sagrado. Era permitido beliscar a imagem do imperador, uma tolerância que faz lembrar a que os Ingleses têm para os que troçam da sua rainha. Mas o império e a própria 'era de Augusto', restringiram tais liberdades. 

"Nos primeiros tempos da Antiga Roma, 'perduellio' era o termo para a ofensa capital de alta traição. Estava, sem rodeios, escrito assim na Lei das Doze Tábuas: "A Lei das Doze Tábuas ordena que aquele que provocou um inimigo ou entregou um cidadão ao inimigo deve ser punido com a pena capital."" (Paul Veyne) 

Essa insegurança inicial voltou mais tarde a dominar o clima político, já não por causa de uma ameaça do exterior, mas devido à corrupção interna e à falta de crença nas instituições. A loucura atingiu em cheio os herdeiros da 'Gens Julia' e o governo arbitrário tornou-se a norma. A fórmula de Lord Acton talvez tenha sido inspirada pelo exemplo dessa extirpe: 'o poder absoluto corrompe absolutamente.' 

Os imperadores deixaram de 'ser como os deuses'. Mas enquanto os Gregos tinham deixado de acreditar nos seus mitos por causa da filosofia e da livre discussão, os Romanos deixaram de acreditar nos seus por que lhes eram demasiado familiares, demasiado (in)humanos. É um exemplo de como as boas convenções dependem de crenças inatacáveis. 



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