segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

REVISIONISMO

A Revolução Cultural

 

"A certa altura, nesta breve e, de resto, banal entrevista, contudo, Mao, que já estava a cozinhar a sua vindoura 'Revolução Cultural', deixou uma sugestão tantalizante, indicando que os escritores e os intelectuais estavam profundamente corrompidos pelo 'revisionismo', mas que a juventude podia ser mobilizada contra este mal contra-revolucionário."

(Simon Leys sobre a famosa entrevista de 1965, entre Mao Tsé Tung e André Malraux)

A palavra revisionista é actualmente inócua. Todos os partidos comunistas, de uma maneira ou de outra, 'reviram' a história do movimento. Admití-lo é, evidentemente, outra coisa.

Num sistema fechado, as palavras têm sentidos exclusivos, por isso a poesia é o que há de mais subversivo para esses sistemas. Ou uma palavra que fez o seu caminho, mas precisa de um piparote para subverter o sistema de alto a baixo, como 'Glasnost' ou 'Perestroika'.

O revisionismo foi, naquela altura, uma arma de arremesso poderosa. Na boca do 'sumo pontífice' da Revolução Chinesa, equivalia à auto-excomunhão dos culpados. Como refere o escritor francês, nas suas 'Antimémoires', no encontro, o líder chinês terá explicado: "Plekhanov e os Mencheviques eram marxistas, mesmo leninistas. Separaram-se das massas e acabaram por pegar em armas contra os Bolcheviques, ou melhor foram na maioria exilados ou executados." É isso: os revisionistas 'separaram-se das massas'.

Isto supõe que as massas seguiram sempre em frente (de desastre em desastre, até um 'pragmático' chegar ao poder e dar os 'cem passos atrás' que 'modernizaram' a China) movidas por um instinto infalível.

Na verdade seguiram um louco que se tomava por Mao Tsé Tung. Infelizmente, este conseguiu 'mobilizar a juventude' e ultrapassar tudo o que a distopia de Orwell foi capaz de imaginar, destruíndo a família, as instituições, e os tesouros do passado. Se Staline fosse tão louco, não teríamos hoje o Hermitage.


 

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