sábado, 14 de dezembro de 2013

A ONDA

 

Katsushika Hokusai


" - Esta vaga, diz o velho, não esperou. Ingratos que nós somos! Este poder do homem, e mesmo de pensar, como é que se ousa descrevê-lo esquecendo a longa sequência dos trabalhos e das ferramentas?"


"Entretiens au bord de la mer" (Alain)


A onda não é nada em si. Tem todo o oceano que a empurra e o sol e a lua.

O instantâneo, a onda isolada, pertence ao conceito. Não há onda, como de resto não há milhões de gotas, nem biliões de átomos. Tudo isso é ordem que vem de nós, é o nosso fio de Ariana, que não muda o labirinto mas permite que nos encontremos.

Como ousamos, pois, esquecer os mortos e os vivos que nos empurram, que pretensão é essa de julgar que somos o ponto de partida de alguma coisa?

A ideia de que cada ser é exterior a si mesmo há-de ser sempre nova, sempre surpreendente e contra a experiência.

O facto é que não nos podemos ver a nós mesmos, nem escapar dos sistemas sem cair no caos.

"Talvez valesse mais dizer que um sistema fechado não tem propriedades; suponho que tal é a ideia escondida, à qual se vai às cegas e apenas por meio da técnica. Ao passo que o entendimento descobre aqui a indivisível relação." (ibidem)

A relação é entre a ideia do sistema e o mundo. Só que, como é natural, tomamos um pelo outro.

 

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