quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A CONFIANÇA DOS JOVENS

Alain e alunos do Liceu Henri IV

"A única coisa, talvez, que me inspira respeito é a confiança adorável da juventude."

Alain (in "Alain, un sage dans la Cité" de André Sernin)

 

Palavras de um professor, talvez do professor-modelo do século XX, em França. A contrapartida desta confiança 'adorável' do mestre nos seus alunos é a autoridade moral inquestionável daquele aos olhos destes.

Como o filósofo aconselha em relação à leitura de uma obra literária, é preciso pôr de lado qualquer 'parti-pris' e fazer confiança no autor, para o compreender. Por maioria de razão, o jovem aluno tem de confiar no professor, e essa tarefa está muito facilitada pela sua falta de experiência.

Mas porquê respeito por uma coisa, naquele tempo, tão natural? Eu arriscaria que, sendo uma atitude tão necessária para aprender, merece o mesmo respeito do que as forças da própria vida.

É esta, porém, a escola dos nossos dias? Quem acompanhar, de longe que seja, o drama do nosso ensino, percebe que aquele laço natural entre o professor e o aluno se rompeu. A autoridade moral não é um adquirido, é uma conquista dos melhor adaptados. E a confiança ou a falta de confiança dos alunos reflecte o que se passa na família moderna. O professor está sob o escrutínio de um espírito mais 'exigente' e menos tolerante, na medida em que sabe mais (ou julga saber) do que os alunos do mestre Chartier.

Esta mudança não foi deliberada por nenhum pedagogo, nem foi prevista pela sociologia. Se é boa ou má, nem o saberíamos dizer.

Quando tudo comunica, graças à tecnologia, descobre-se que se pode viver sem coisas como uma hierarquia natural, até há pouco consideradas sagradas. Era assim, por exemplo, que pensava Simone Weil ("L'Enracinement")

 

 

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