domingo, 8 de dezembro de 2013

ESPANTA-ESPÍRITOS

"Mao", Andy Wharol

 

"O seu próprio sonho de que a ocidentalização podia ser usada para reformar a China subitamente pareceu-lhe tão patético como a atitude de 'um paraplégico rindo-se de um tetraplégico.'"

(Simon Leys, citando Liu Xiaobo, prémio Nobel de 2010)


Um sonho patético de que, sem dúvida, acordaram todos os que viveram a 'implosão' da URSS e dos países do 'bloco soviético'. Mas, como se sabe, o grau de paralisia não é indiferente. Por outro lado, o exílio nem sempre confirma uma mudança 'para o bem', como se viu com Soljenitsyne.

É mais do que plausível que a cultura chinesa, nada tendo a ver com a europeia, rejeitaria uma reforma nos termos desta - problema iludido pela ideia duma simples mudança de grau. Parece, no entanto, que os actuais líderes do PCC pretendem competir com o Ocidente na 'economia que mata' (como diz o papa).

O paradoxo é que, 'em profundidade', a cultura chinesa possa continuar igual a si mesma, apesar do regime abraçar o capitalismo selvagem, porque, afinal de contas, houve sempre um divórcio entre a burocracia e o povo que não mudou com o regime comunista, está bom de ver.

O símbolo desta dualidade histórica é a continuada presença do cartaz de Mao, na Praça Tien Amen. Está lá como um 'espanta-espíritos', para melhor exorcizar a figura de um Mao vivo.

 

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