“A insegurança, mesmo nas zonas animadas, precipita os citadinos naquela situação opaca e altamente assustadora na qual se vêem obrigados a absorver, no meio das intempéries da planície deserta, os abortos da arquitectura urbana.”
Walter Benjamin (“Rua de sentido único”)
É provável que uma cidade tenha meios de influir no nosso humor e no nosso espírito, mais secretos do que a desordem do trânsito e o lixo por recolher ou espalhado nas ruas.
As pessoas que encontramos no autocarro e que envelhecem mal e desceram dentro delas à procura do sol, deixando uma múmia à superfície; a dureza de algumas belas a quem a deusa só deixou a estátua, negando-lhes a graça e a simplicidade; o zumbido das más notícias e do pessimismo, destilados hora a hora pela comunicação, que acompanha numa nuvem negra as deslocações de cada cabeça; os sinais de loucura nas paredes...
Se as pessoas não tiverem uma inspiração e uma fonte de energia em algum lugar do mundo, a cidade consome todas as suas forças, até torná-las em personagens dum filme de John Carpenter.
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