segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A LIBRA DE CARNE

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"Bloom, tendo procurado livros com exercícios para esquecer, não encontrou um único; e procurou muito."


"Uma viagem à Índia" (Gonçalo M. Tavares)


Porque não se ensina o que até os animais 'sabem'. O esquecimento faz parte do mesmo fenómeno que aplana as pirâmides de Gisé.

Mas dado que o nosso tempo não é o desses grandes monumentos e que toda a vida humana é curta comparada com a da arte, como diziam os antigos, a lembrança, que é o contrário do esquecimento,  e o esquecimento voluntário que não é sofrido nem natural, definem-nos, talvez,  melhor do que a qualidade de racionais.

Não vivemos, como povo, 'agarrados' a uma grandeza passada. Esquecemos bons e maus costumes para sermos iguais aos outros. E todos se parecem, cada vez mais, com o povo mais 'desenraizado' (na verdade foi um transplante europeu) que já houve: o americano.

Não parece ter-lhe custado esquecer o chamado 'espírito pioneiro' e a sua frugalidade para se tornar no maior consumidor do planeta, conforme o desígnio da elite dos negócios. Este 'esquecimento' foi tão natural como preferir a riqueza à pobreza.

A realidade económica veio lembrar o básico a este egoísmo voraz que é o de que o planeta não pertence a ninguém e que não há 'condomínio fechado' que possa eternamente ignorar a existência dos outros.

A insegurança que deve ser a coisa mais bem distribuída entre os ignominiosamente ricos; não os deixa esquecer. São como os nossos credores que não nos deixam voltar ao suave esquecimento das antigas virtudes, mas de tal maneira que parecem guiados pela ideia estúpida de que vão ter, como o judeu Shylock,  a  "libra de carne humana" e o dinheiro ao mesmo tempo.

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